Queria eu, de belas e alegres paisagens falar-te, de lindos jogos de cores irradiadas nas águas espelhados e dos tons alaranjados que lhes tocam por altura do por do sol, de verdes paisagens entre curvadas encostas que prometem chegar ao céu em dias em que arranham as nuvens ou que gritam de um tão vivo verde noutros em que o sol a luz irradia. E tantas são as coisas alegres com que nos encanta este pedaço de universo onde moramos, que podia muito bem ser num jardim toda a historia que passo nas horas que sinto passar por mim. Tão grande é esta vontade que sinto de te poder oferecer sentir tudo o que sinto. Vontade que me atormenta, em dias que por ser tanta, que parece não caber em mim. Ainda assim, por muita que seja, há sempre que se almeje e que não se consiga. Chego a ter pena de a oferecer não me ser consentido, pois acredito que a muitos seria útil. Mas dias há que sinto tão grande o encanto, que não sei dizer qual será maior, se ele se a dita vontade, de lembranças e anseios, que de entrecruzados me confundem, ou me presenteiam com maior emoção! Breves sopros de saborosa tormenta, algo quentes, mas doces, já que difícil será encontrar ternura igual em algum momento, que o tempo, por muita ou pouca teimosia, lembrar ou esquecer me tenha pedido.
Antunes Ferreira
Afinal vagueava eu na areia da praia
Ao sabor daquele aroma do mar,
Trazido pelo vento que batia fresco na minha face.
Por muito carregado me trouxessem ali as detalhas
Era estranho o conforto que me inundava.
Entrava sem pedir licença e instalava-se,
Como que se soubesse de algo que eu não suspeitava
E apesar de estranho, reconfortava de tão presente.
Ouço os gritos de cada onda, e parece que o mar me fala,
Ora murmura ao mais quente sentimento
Ora me grita no gelo instalado.
Outras vezes canta belas melodias
E inspira-me em prosas ou versos de encanto,
Por tão belas as coisas que me faz sentir
A cada movimento mais ou menos feroz
De tão incansáveis ondas de que se faz munir.
Antunes Ferreira
Não tenho prometido nada que se logre nestes dias em que não tenho nada mais presente em mim senão uma memória presa a alguma lacuna que me preenche todo por onde não quero sequer existir de tanto pensar em valer ser por saber e não dizer de todo, nada que perturbe a mais nobre ignorância de quem apenas observa e julga aquele que vive num apertado sabor que a vida ofereceu a tal singelo mortal. Julguem o que julguem, aquele que julga que será mais ser por julgar, nunca saberá, nunca passará disso mesmo, e de certo sentir não será próprio. Aqui me julgo eu, pois me julgo saber do que me preenche não sabendo mais senão do vazio que me corrói e me impõe esta presença do meu ser que tão pouco é, e nem sempre quer ser, por muito querer. Julgo saber, e não sei, e é de mim que falo.
Costumo dissertar assim sobre o que a mim me toca, por não dizer somente aquilo que sinto, mas aquilo que um dia talvez pense vir a perder de sentido!!!
Mas tu, podes fazer ainda pior,... Dizendo aquilo que realmente encontras naquilo que lês,...ou se for apenas, pouco ou nada, aquilo que encontras, podes ainda acrescentar e dizer isso mesmo! Já eu te posso dizer que só assim mesmo me posso sentir bem de saber afinal o que te marcou ou não dessa mais apressada ou mesmo da mais apurada leitura! Conta-me o que sentes sentir que sinto por meio destas poucas palavras que te apregoo, já que não foi por mais ninguém que as compus.
Antunes Ferreira
Tremulas as pernas, estas que mal sinto e que me tentam levar arrastando-me pelos trilhos marcados aqui pela crosta que já mal sinto, mesmo que crespa a terra que me toca, quente ou gelada já nem sei, já lá vai o tempo em que sentia dar valor à melindre de tais sabores, pois amargos ou doces na altura me sabiam. Certo de que já não acerto, agora desprezo esses saberes e afinal todos quantos sentem esses sabores. Trémulo me sinto na íntegra, já nem disso me sinto certo. Olha-me e diz-me tu que vez afinal neste traste que tresanda ainda por estes ventos, de hoje e de ontem, misturados agora e já sem se perceber bem onde ficou afinal a raia daquilo que o separava outrora de tempos de vistosa aparência e afinados sentidos.
Antunes Ferreira
Tamanhas e imortais entranhas de quem ousa viver da luta, ou de quem luta para viver, caso contrario não viveria, e quem sente assim é de certeza quem tudo dá pelo que não tem, quer queira ou não o queira, terá sempre algo, e mesmo de outra forma não poderia ser, que deseja, por muito distante que esteja, sente-se capaz. Horrendas as sensíveis cenas de um sonho que só ele sente, leva com ele outros tantos e ferozes seres que como ele anseiam por uma qualquer gota dessa realidade que de tão perto se respira pelo sonho que lhes conduz a vida.
Antunes Ferreira
Sobressair de toda uma energia mítica e longínqua, sobressai uma outra coisa não menos polivalente. Sobressaem ou não, nada disto importa, só reagentes, agentes incólumes ou com insanos, tratáveis e isolados saberes de quem não entende de tudo mas tudo absorve num mais ou menos parvo sabor, vivendo naquilo que não espera nem entorna, porá saber que não sabe mais do que aquilo que traz em si, a sabedoria de quem nem precisa bem de saber de onde nasce tão grande ou pequena amalgama da qual sofre por insanidade ou mesmo insano de toda a sua existência.
Antunes Ferreira
. Lacuna
. Afinal, tão singelo pedid...